Quatro dias entre livros, encontros e reflexões no coração da Sardenha: “A Ilha das Histórias” transforma o vilarejo montanhoso em um espaço de intercâmbio cultural, onde a literatura se encontra com as paisagens, as pessoas e uma memória milenar que se expressa por meio de suas pedras, trilhas e narrativas locais.
No coração da Barbagia, entre as montanhas de Nuoro, Gavoi é um dos vilarejos mais autênticos do interior da Sardenha. É neste cenário que, de 3 a 6 de julho de 2025, acontecerá a 19ª edição do “A Ilha das Histórias”, o Festival Literário da Sardenha. Um evento já tradicional que, a cada verão, transforma a vila em uma verdadeira capital da literatura contemporânea. Durante quatro dias, Gavoi ganha vida com encontros, leituras, debates e oficinas. Uma oportunidade única para viver a cultura de forma participativa, aberta e profundamente conectada ao território.
Criado para aproximar escritores, leitores e leitoras em um ambiente genuíno, o festival cresceu ao longo do tempo, mantendo, no entanto, sua identidade original: um espaço de escuta, reflexão e troca, onde a palavra escrita se transforma em experiência viva. A singularidade do festival está exatamente aí: ele envolve toda a vila, desde a praça até os pátios, das bibliotecas às trilhas, fazendo de Gavoi um grande palco descentralizado, composto por encontros, palavras e pessoas.
Cada edição recebe personalidades importantes da literatura, do jornalismo, da filosofia e da divulgação científica. Os dias se alternam entre conversas com autores, leituras coletivas, atividades para crianças e jovens, concertos e momentos festivos. Um programa intenso, pensado para um público diverso, curioso e interessado em questionar o presente por meio dos livros.
Nesse contexto, falar de histórias é também falar de vínculos, de identidade, do que nos mantém unidos ao longo do tempo. Não por acaso, é justamente na Sardenha, terra de memórias profundas e fortes raízes, que a literatura se torna um caminho para redescobrir o valor das origens.
E após os dias do festival, a experiência segue pela descoberta do território: Gavoi e arredores abrigam um dos patrimônios arqueológicos mais impressionantes do interior da Sardenha. A poucos quilômetros da vila, podem ser visitados vestígios neolíticos ao redor do santuário de ‘Sa Itria’, incluindo o famoso menir ‘Sa Perda Longa’, com mais de três metros e meio de altura, além das ruínas de um vilarejo nurágico. Também estão presentes dolmens, domus de janas, tumbas de gigantes e nuragues muito bem preservados.
Ao redor do lago Gusana e no vale de Oratu, um percurso une natureza, história e espiritualidade, marcado por menires, estruturas megalíticas e vestígios da antiga via romana. Uma oportunidade perfeita para quem, além da literatura, busca um contato autêntico com a história mais antiga e misteriosa da Sardenha. Porque essa, afinal, também é uma ilha de histórias.
Mini glossário:
- Menires: grandes pedras verticais erguidas na pré-história, geralmente associadas a rituais religiosos ou simbólicos.
- Dolmens: estruturas megalíticas formadas por grandes pedras verticais que sustentam uma pedra horizontal no topo. Eram usadas, principalmente, como tumbas coletivas na pré-história.
- Domus de janas: antigas tumbas escavadas na rocha, típicas da Sardenha, datadas do período Neolítico.
- Nuragues: torres de pedra pré-históricas típicas da Sardenha, construídas principalmente entre 1800 e 500 a.C., durante a chamada civilização nurágica.